Grandes projectos são feitos com grandes pessoas: consulte aqui as oportunidades.

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O combate à seca é um desafio permanente – Gerdina Didalewa

Fonte: Angop (29/07/2023)

Ondjiva – A governadora do Cunene, Gerdina Didalewa, afirmou, recentemente, que a província registou, nos últimos anos, ganhos notáveis em vários sectores, mas muito ainda deverá ser feito para melhorar a vida das comunidades.

Por Luísa Tchatomba, jornalista da ANGOP

Em entrevista à ANGOP, a governante disse que um dos sectores a ter-se em conta é o da Energia, tendo em atenção o facto de a região ainda não ser auto-suficiente e precisar de mais MW para satisfazer a demanda, cada vez mais crescente.

Informou, a esse respeito, que estão em construção 2,2 quilómetros de iluminação pública na Estrada Nacional 105 e uma linha de transporte de energia de 24 quilómetros, de Namacunde à comuna do Chiedi.

Estão a reabilitar e a estender a rede eléctrica e de iluminação pública para os bairros Deolinda Rodrigues e Caimo 2, bem como para a povoação do Péu-Péu (comuna do Xangongo) e sedes das comunas do Humbe, Mucope, Naulila e Ombala Yo Mungk, disse.

Durante a conversa, a governadora adiantou, igualmente, que o combate à seca e suas consequências, assim como a captação de investimentos privados para a exploração do potencial económico da província constituem desafios permanentes.

Destacou os investimentos no combate à seca, em particular no Cunene, tendo realçado o Canal do Cafu e alguns projectos estruturantes no sector da Energia e Águas.

A primeira mulher a governar a província falou, inclusive, sobre os investimentos em curso no sector da Habitação, do ponto de situação das vias de acesso, do Parque Nacional da Mupa e da exploração do Complexo Turístico de Oihole.

Nesta entrevista, Gerdina Didalewa fala do crescimento dos sectores da Educação, Saúde, Agricultura, Transportes, factores que permitiram a melhoria da qualidade de ensino, da assistência médica e da mobilidade urbana.

Eis a entrevista na íntegra

ANGOP – Antes de mais, agradecemos-lhe pela disponibilidade para esta conversa e desejamos-lhe sucessos na sua missão! Senhora Governadora, 57 anos depois da ascensão a província, que Cunene nos pode apresentar?

Gerdina Didalewa (GD) – Também me permitam, antes de mais, agradecer a oportunidade que me é dada, para, uma vez mais, através da ANGOP, tecer algumas considerações sobre a nossa província. Como sabem, estou à frente dos destinos do Cunene desde Janeiro de 2020 e, durante esse período, posso dizer que a panorâmica que se pode fazer da região é positiva, porque nada está estagnado, apesar de que os avanços registados não estejam à medida que todos desejamos.

ANGOP – O que encontrou quando assumiu os destinos da província e quais foram os avanços registados até agora?

GD – Encontrei uma província em andamento, apesar de várias dificuldades na altura, mormente ligadas à seca e à fome provocadas pela falta de chuvas. Para agravar a situação, surgiu a pandemia da Covi-19, cujas consequências são sentidas até hoje. Por conseguinte, posso afirmar que faço uma avaliação positiva da situação actual.

ANGOP – Quais são os grandes desafios para o quinquénio 2022-2027?

GD – Os grandes desafios para este quinquénio continuam a ser o combate à seca e todas as suas consequências, a captação de investimentos privados para alavancar a nossa economia, a conclusão de projectos estruturantes, a atracção de quadros qualificados para os sectores da Saúde e Educação e a melhoria das principais vias de acesso.

ANGOP – Falou sobre a seca. Podia descrever o actual ponto de situação deste fenómeno e o que foi feito até ao momento para mitigar os seus efeitos?

GD – Nunca é de mais recordar aos nossos concidadãos que o Canal do Cafu foi inaugurado no dia 4 de Abril de 2022, e, na ocasião, foram entregues equipamentos agrícolas e demais meios para o desenvolvimento das actividades agrícolas ao longo do mesmo. Os equipamentos e os meios a que me refiro foram entregues a associações agrícolas constituídas a propósito, cujos membros foram treinados nas escolas de campo apoiadas pela Direcção Provincial da Agricultura e pelo FRESAN. A par dessas associações, foram aparecendo outros cidadãos interessados que, sob orientação do Governo Provincial, foram recebendo terrenos devidamente loteados, pelo que, actualmente, se vislumbra uma notável actividade agrícola ao longo do Canal do Cafu, o que constitui um inestimável ganho. Em relação à água, há projectos estruturantes a serem executados na província, que trarão um grande alívio às comunidades. No que diz respeito à fome, o Executivo tem mobilizado apoios com bens alimentares e não só, destinados às vítimas, ao mesmo tempo que se intensificam acções, no sentido de se aproveitar da melhor maneira possível a água disponível nos canais, para a prática da agricultura de regadio, com vista ao combate a esse problema.

ANGOP – Alguns dos grandes investimentos do Executivo, para contrapor os efeitos da seca, foram direccionados à construção de barragens e furos de água. Como estão a decorrer as obras das barragens da Cova do Leão, Ndué e Calucuve?

GD – As obras das barragens a que se refere tiveram início em 2022. A execução decorre a um ritmo razoável, aguardando-se pela sua conclusão, contando que os recursos financeiros sejam disponibilizados pontualmente. Esperamos que a sua conclusão aconteça o mais rápido possível e que haja chuvas abundantes, a fim de se atenuar a situação da seca que assola as populações do Cunene, particularmente as dos municípios da Cahama e Curoca.

ANGOP – Podia ser um pouco mais precisa quanto a esta informação, ou seja, quais são os níveis de execução física destas empreitadas?

GD – As últimas informações que nos foram fornecidas dão conta que as obras na barragem da Cova do Leão (Lote 7) estão a 5,6 por cento, e as do Curoca a 49%.

ANGOP – Qual é a razão do atraso nas obras da barragem da Cova do Leão?

GD – O atraso que se regista nas obras da barragem da Cova do Leão justifica-se pelo facto de se estar a pensar na mudança de local para a retenção da água.

ANGOP – Falando em água, qual é a realidade da província nesta altura?

GD – Felizmente, desde 2014, a província do Cunene tem um sistema convencional de captação, tratamento e distribuição de água potável, com uma rede de distribuição de 172 quilómetros, com capacidade de mil e 24 metros cúbicos. Impõe-se a necessidade de expansão da rede de distribuição de água, face ao aumento considerável da demanda populacional, servindo apenas 7.100 ligações domiciliárias, o que é exíguo, tendo em conta o aumento exponencial da população. Ainda no sector das Águas, recentemente foi inaugurado o sistema de distribuição de Ombala Yo Mungo, que beneficia pelo menos 2.250 cidadãos. Queremos realçar o reforço do sistema de abastecimento de água de Ondjiva para duas mil 640 ligações domiciliares, a construção, em Santa Clara, da nova conduta adutora de 350 milímetros e do sistema de captação de água para 200 fogos, no Curoca, assim como a reabilitação do sistema de abastecimento de água de Namacunde. Todos esses projectos visam criar 11 mil novas ligações domiciliares.

Por outro lado, está, finalmente, concluído e inaugurado o projecto estruturante de transferência de caudais, a partir do rio Cunene, na secção do Cafu, com uma conduta pressurizada e abertura de 155 quilómetros de canais, onde estão acoplados 30 chimpacas. De igual modo, já foram realizadas celebrações contratuais e a adjudicação dos projectos das barragens 128 e 71 com canais adutores, nas localidades de Calueque e Ndué e na margem direita do rio Cunene, isto é, nos municípios da Chama e Curoca decorrem obras nas barragens hídricas, para o aproveitamento e armazenamento de água, bem como foram feitos estudos para a elaboração de projectos para futuras intervenções, no âmbito das águas, naquelas zonas.

ANGOP – Sendo um sector relacionado, como está o fornecimento de energia?

GD – Temos, actualmente, disponíveis 13.5 megawatts de energia produzida a partir da República da Namíbia e da central térmica, que beneficiam as cidades de Ondjiva, Namacunde e Santa Clara, bem como a Missão Católica de Omupanda e as localidades de Caluque, Ruacana e Chitado. O município de Ombadja, na sede, beneficia do fornecimento de energia eléctrica da Central Híbrida, com 5 megawatts, e os restantes, mais concretamente as sedes, são abastecidos por geradores. Por conseguinte, e a bom rigor, ainda não somos auto-suficientes nesse domínio. Precisamos de mais MW para satisfazer a demanda, que é cada vez crescente. Estão em construção 2,2 quilómetros de iluminação pública na Estrada Nacional 105, uma linha de transporte de energia de 24 quilómetros de Namacunde à comuna do Chiedi. De igual modo, estão a reabilitar e a estender a rede eléctrica e de iluminação pública para os bairros Deolinda Rodrigues e Caimo 2, bem como para a povoação do Péu-Péu (comuna do Xangongo) e sedes das comunas do Humbe, Mucope, Naulila e Ombala Yo Mungk.

ANGOP – Mudando um pouco de tema, as vias de acesso continuam a ser um problema para as autoridades e as comunidades do Cunene. Que soluções têm encontrado para minimizar esse problema?

GD – Como é do domínio público, as vias de acesso jogam papel relevante no processo de desenvolvimento das regiões. As principais vias de acesso são de subordinação central, e grande parte das obras de reabilitação está paralisada, por razões já conhecidas, à excepção da estrada Ondjiva-Omala, cujos trabalhos de reabilitação/construção continuam em curso, assim como o troço que liga Anhanca-Caiundo, com a construção prevista no OGE/2023. A par dessas acções, as administrações municipais efectuam intervenções pontuais nalgumas vias de acesso, com recurso ao PIIM.

ANGOP – Quando nos referimos a infra-estruturas, os recursos humanos são fundamentais para fazer a máquina funcionar. Qual é o quadro actual e quantos são necessários para satisfazer as necessidades da província?

GD – A província do Cunene enfrenta uma gritante falta de quadros em quase todos os sectores, mas, se me permite particularizar, os sectores da Saúde e da Educação são fundamentais para o desenvolvimento local. Assim, na Saúde, o quadro actual apresenta uma força de trabalho de 2.473, dos quais 138 são médicos, 1.450 enfermeiros, 251 técnicos de diagnóstico e terapêutico, 376 técnicos de apoio hospitalar e 258 do regime geral. Entretanto, faltam especialistas nas áreas de Ginecologia, Imagiologia, Cirurgia Geral, Ortopedia, Traumatologia, Pediatria, Cuidados Intensivos, Anestesia, Medicina Interna, Neonatologia, Neurocirurgia, Oftalmologia e Enfermagem.

ANGOP – E como está, actualmente, a rede sanitária?

GD – A rede sanitária é composta por oito hospitais, 672 centros, 454 postos de saúde e 1.126 camas.

ANGOP – Está em construção um novo hospital geral. Até que ponto essa unidade vai melhorar a qualidade da assistência médica na província?

GD – Os principais ganhos consistirão, sem sombra para dúvidas, no aumento da oferta de serviços especiais e mais camas para internamentos.

ANGOP – Quanto à Educação, que diagnóstico se pode fazer?

GD – Na Educação, existem, actualmente, 6.677 professores nos diferentes subsistemas de ensino, que atendem a 219.700 alunos matriculados no presente ano lectivo. O défice mantém-se, devido ao grande número de alunos fora do sistema de ensino.

A província tem, actualmente, 334 escolas que permitiram a inserção de 219.700 alunos em todos os subsistemas do ensino não-universitário no presente ano lectivo, assistidos por 6.577 professores. No entanto, são ainda imensas as necessidades no sector, que passam pela construção de mais escolas para acolher as 53.893 crianças que estão fora do sistema de ensino. Isso corresponde, aproximadamente, a 193 escolas de sete salas cada. Outro desafio é melhorar a acomodação e as condições de trabalho dos professores no meio rural, expandir o ensino secundário pelas comunas, garantir transporte escolar e reduzir o défice de água nas escolas.

ANGOP – O que o Governo da Província do Cunene está a fazer para reduzir o número de crianças fora do sistema escolar?

GD – Temos em curso a construção/reabilitação de 20 escolas e 32 residências de funções para professores, no âmbito do PIIM, um investimento que contribuirá para a inserção de mais crianças no sistema de ensino.

ANGOP – E em relação ao ensino superior?

GD – No que se refere ao ensino superior, funciona na província uma única instituição pública, o Instituto Superior Politécnico de Ondjiva, afecto à Universidade Mandume Ya Ndemufayo, cuja sede está no Lubango, província da Huíla. Entretanto, já decorrem obras de ampliação do edifício onde funciona a instituição, com o objectivo de se acrescentarem salas de aula e a oferta formativa, ou seja, a abertura de mais cursos. O OGE/Central para 2023 prevê a edificação de uma infra-estrutura para albergar todos os serviços do actual Instituto Politécnico.

ANGOP – O PIIM já é uma realidade no Cunene?

GD – No quadro do PIIM, a província inscreveu 123 projectos, sendo cinco de subordinação central e 118 locais, dos quais 73 estão concluídos, 44 em curso e um por iniciar.

ANGOP – Quanto já terá sido gasto no âmbito deste programa estruturante?

GD – Até 15 de Junho do presente ano, foram desembolsados 14 mil milhões, 709 milhões, 904 mil, 989 kwanzas e 10 cêntimos.

ANGOP – Qual é o ponto de situação do sector da Habitação?

GD: Este sector tem registado crescimento (…). Queremos aqui destacar a construção de 484 apartamentos (dos 500 previstos) da Centralidade de Ondjiva, também já distribuídos à população.

Decorre a regularização das 898 casas, das quais 512 estão inacabadas, embora já distribuídas, todas referentes às 2.500 residências previstas, no bairro Caxila III.

Ainda na mesma senda, em todos os municípios, encontram-se em fase de avaliação e regularização as casas do projecto ‘200 Fogos’. Gostaria, também, de destacar o projecto das 450 casas sociais de Ombadja, no Xangongo, que se encontra paralisado por razões financeiras, mas estamos a trabalhar para a sua continuação.

ANGOP – Como caracteriza o sector da Cultura no Cunene?

GD – A província do Cunene é muito rica em termos culturais. Basta recordar-lhe a existência de 56 monumentos e sítios históricos, lugares que, em si só, corporizam valores culturais, usos e costumes dos povos que vivem nesta região. No entanto, para que esses recursos sejam suficientemente conhecidos e explorados, requerem investimentos em infra-estruturas básicas, como vias de acesso, energia eléctrica e água, hospedarias, restaurantes e bares. Todos esses investimentos vão sendo feitos à medida que se forem disponibilizando recursos financeiros.

ANGOP – Fale-nos um pouco do Complexo Turístico de Oihole e do Parque Nacional da Mupa.

GD – O Complexo Cultural e Turístico de Oihole já teve várias intervenções em termos de gestão. A última empresa cessou unilateralmente a sua actividade no complexo e, neste momento, decorrem iniciativas do Governo Provincial, no sentido de o reabilitar e, a posterior, realizar-se um concurso público para a consequente exploração. Aproveito esta oportunidade para renovar o nosso apelo a todos os interessados, para participarem do concurso, bastando contactar a entidade que vier a ser indicada para o efeito.

O Parque Nacional da Mupa está localizado no município do Cuvelai, concretamente na comuna da Calonga, e ocupa uma área de 6.600 quilómetros quadrados. Neste momento, decorrem contactos entre o Governo da Província do Cunene e o Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente, com vista à redefinição da sua gestão, no contexto das políticas de conservação da biodiversidade.

ANGOP – Para terminarmos a conversa, que mensagem quer deixar aos habitantes da província do Cunene?

GD – Agradecemos e estamos sempre disponíveis para prestar contas! Para todos os habitantes do Cunene, deixo uma mensagem de esperança na edificação de uma província próspera e boa de se viver.

Perfil da governadora

Nascida a 10 de Agosto de 1961, na província do Cunene, Gerdina Ulipamue Didalewa é licenciada em Psicologia do Trabalho pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto.

Exerceu as funções de contabilista do Armazém de Bens Alimentares n.º 1, Comércio Interno, no Cunene (1978-1979), de directora provincial da Família e Promoção da Mulher na mesma província (1994-2008) e de deputada pelo Grupo Parlamentar do MPLA (2008-2017).

Foi delegada à 50.ª e 52.ª Sessões das Nações Unidas sobre a Condição da Mulher (2006-2008), membro da Comissão Provincial Eleitoral do Cunene (2005-2008), segunda secretária provincial do MPLA (2019-2020) e, em 2020, foi nomeada governadora do Cunene, cargo que exerce até ao momento.

A província

Localizado no Sul, o Cunene é uma das 18 províncias de Angola. A sua capital é a cidade de Ondijiva.

Segundo as projecções populacionais de 2018, elaboradas pelo Instituto Nacional de Estatística, conta com pelo menos um milhão, 121 mil e 748 habitantes e uma área territorial de 78 342 quilómetros quadrados.

A província compreende os municípios de Cahama, Cuanhama, Curoca, Cuvelai, Namacunde e Ombadja.LHE/VM/ELJ