Grandes projectos são feitos com grandes pessoas: consulte aqui as oportunidades.

Grandes projectos são feitos com grandes pessoas: consulte aqui as oportunidades.

Canal do Cafu cria oportunidades de fomento agro-pecuário na região

Fonte: Jornal de Angola (29/06/2023)

O curso de água destinado a minimizar os efeitos da estiagem, após a sua inauguração pelo Presidente João Lourenço, está a permitir, de forma sustentável, a criação de pequenos projectos que atraem vários empreendedores

Domingos Calucipa

A água do Canal do Cafu, no Cunene, está a ajudar muitos agricultores e criadores de gado a empreenderem na região.
O Canal do Cafu, o primeiro dos quatro projectos estruturantes de combate aos efeitos da seca na província do Cunene, fornece água em abundância para o gado, consumo da população e irrigação de pequenas hortas à volta, um ano depois da inauguração, apurou o Jornal de Angola.

A reportagem constatou que, embora o gado esteja ainda a consumir água resultante das cheias deste ano, acumulada em lagoas, o Canal do Cafu está a funcionar em pleno, à altura de dar resposta à situação de estiagem que possa eclodir na região, particularmente nos municípios de Ombadja, Cuanhama e Namacunde, abrangidos pelo traçado.

O projecto, além de disponibilidade de água que oferece para o consumo da população humana e animal da região, está a permitir o fomento da actividade produtiva em vários espaços do seu curso, onde pequenas iniciativas estão a transformar zonas antes fechadas ou áridas em espaços verdejantes e com culturas alimentares. Do Cafu, na origem do Canal, a Ondobodora ou a Onamacunde, términos dos dois ramais, é possível notar, nas duas margens, várias pequenas parcelas a serem preparadas ou com sinais de ocupação para fins de produção por via de rega.

Mas foi mesmo junto a uma das chimpacas da localidade de Oshakati onde a reportagem do Jornal de Angola foi surpreendida com duas hortas de aproximadamente um hectare e meio cada, apinhadas de tomate em fase de colheita, um desafio abraçado por dois agricultores em finais do ano passado. Manuel Jongolo, jovem na casa dos 30 anos, oriundo da província do Huambo e a residir em Ondjiva, há mais de dez anos, disse que se instalou na região em Novembro do ano passado, a convite do seu pai, um destacado produtor de hortícolas.

O agricultor descreve que a sua actividade começou com a compra da parcela a um amigo do pai que desistiu da pretensão de fazer horta. De seguida lançou-se ao trabalho de desbravar a terra, à base de enxadas e catanas, com o auxílio de dois jovens saídos da província da Huíla. O empreendedor conta que no princípio tudo foi difícil, com a preparação do espaço de forma manual, desde a desmatação até ao desbravamento da terra, num espaço inicial de meio hectare. No arranque, a aposta foi o tomate e experimentalmente o milho, mas o primeiro foi o produto que se apresentou como a melhor opção. Manuel Jongolo foi encontrado em fase das primeiras colheitas de tomate, que têm como destino o mercado informal da cidade de Ondjiva.

O pequeno produtor gaba-se de, até à altura, ter já colhido mais de 30 caixas de tomate, comercializada cada entre 7.000 a 10.000 kwanzas, numa altura em que faltava ainda colher a outra metade do plantio. O agricultor admitiu que a próxima aposta, que já iniciou com a preparação e ampliação do espaço, vai ser novamente tomate, acrescentando-se cebola e milho, produtos facilmente comercializados nos principais mercados da região.

Necessidade de apoio

Manuel Jongolo disse que a sua actividade começou e está ainda a ser realizada à base de enxadas , com suporte de uma pequena motobomba já usada, oferecida pelo seu pai, que, apesar de suas limitações e avarias constantes, tem bombeado água do canal para a irrigação do pequeno campo agrícola.

Admite que com mais apoio e incentivos pode aumentar a produção e diversificar as culturas. “A maior dificuldade neste momento é a minha motobomba que não é capaz de irrigar mais espaços e as suas avarias constantes, incluindo as mangueiras. Já não suporta a carga da rega. Um motor novo no mercado está muito caro”, refere o jovem. O produtor queixa-se de uma praga que prejudicou o primeiro plantio, indicando que tem sido incapaz de a combater: ”o bicho penetra no tomate e o destrói”.

Grande parte dos produtores aposta em hortícolas

Armando Nguelapete, também natural do Huambo, é um nome conhecido por muitos em Ondjiva, quando o assunto é a produção de hortícolas. É no aproveitamento das águas das cheias que se têm acumulado em lagoas que o homem se notabilizou como produtor de verduras, que chegam a muitas mesas da cidade, uma prática aprendida desde a tenra idade, na terra natal.

Mas, por conta de longas paragens causadas pela escassez de água no tempo seco e consequentes prejuízos, muitas vezes o cultivo não atingia a maturação, por isso não pensou duas vezes em transferir a sua actividade para o Canal do Cafu, depois que este foi inaugurado. Primeiro a mostrar resultados produtivos no perímetro, Armando Nguelapete, tal como Manuel Jongolo, também, apostou no plantio de tomate, na zona de Oshakati. “Viemos produzir no Canal porque aqui tem água todo o tempo, o que nos vai permitir produzir mais . Em Ondjiva, andávamos a ter prejuízos, uma vez que as lagoas secavam cedo e o tomate e outros produtos não ficavam prontos”, explicou.

A actividade produtiva de Nguelapete no Canal iniciou em Agosto no ano passado, com a desmatação e cerco do terreno, para, no mês seguinte, lançar a semente de tomate à terra, num investimento próprio de cerca de 900 mil kwanzas. O capital foi aplicado na compra de mangueiras, sementes e pagamento da força de trabalho.

Conta que, não obstante a praga que se instalou na produção, está a conseguir colher tomate desde Março último no seu espaço de cerca de um hectare, com uma média semanal de quinze caixas. Armando Nguelapete almeja obter um financiamento bancário para elevar a produção, particularmente de tomate, que melhor se adapta àquele solo, bastante arenoso, com o alargamento do espaço de cultivo e a aquisição de mais mangueiras, fertilizantes, arame de vedação, entre outros meios.

No perímetro, as iniciativas produtivas não se resumem apenas a Manuel Jongolo e Armando Nguelapete, outros pequenos produtores vão mostrando a sua veia campesina, como é o caso de Bernardo Kafelando, natural de Mulondo, na Huíla, que se instalou numa aldeia da comuna de Ombala-yo-mungo.

Bernardo Kafelando diz-se feliz porque o Canal passa, também, pelo seu espaço. O traçado cruzou escassos metros da sua pequena horta, onde já pratica actividade há quatro anos, tirando proveito de uma pequena lagoa, bem ao lado. Na horta, encontramos um pouco de tudo, desde tomate, cebola, couve, batata-doce, feijão, melão e jindungo.

“O que me motivou foi à falta de alimento aqui na nossa zona. Temos vivido muitos problemas de fome, sobretudo a falta de acompanhantes. O que colho aqui nos ajuda bastante em casa”, revelou Kafelando, já nos seus 60 anos. O agricultor está a apostar, também, na plantação de frutícolas, onde é possível contabilizar perto de 150 pés de mangueiras, larangeiras, mamoeiros e abacateiros. O seu maior sonho, descreveu, é conseguir uma motobomba para puxar água do canal, pois nesta altura toda a rega é feita ainda manualmente e muitas vezes com a ajuda de um balde.

Ministério da Agricultura garante apoio a camponeses

Um de desenvolvimento agrícola do Ministério da Agricultura e Pescas, que visa apoiar os camponeses a melhorar os métodos de cultivo, começou a ser implementado, no princípio deste ano, em diferentes pontes do percurso do Canal, através do Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA). O trabalho, segundo Dilson da Cruz Paulo, técnico do projectos na Cooperativa 1º de Maio, visa formar várias Escolas de Campo Agrícolas (ECA), onde se vai ensinar aos camponeses a produzirem mais, de forma diversificada e em ciclos curtos.

Na Cooperativa 1º de Maio, j unto ao Canal, homens e mulheres parcelam a terra já desbravada para lançar a sementeira de milho, uma variedade de curto prazo e resistente a pragas e à seca. Noutros talhões, como conta Dilson da Cruz, vai trigo, uma variedade precoce de três meses, também resistente a adversidades. No espaço de um hectare vai, também, massango e fruteiras. A ECA daquela cooperativa conta 85 membros.

Outras pequenas hortas particulares e colectivas vão surgindo, embora timidamente. Com destaque para as escolas de campo do projecto FRESAN, já presente em diferentes municípios da provincia, que trem como finalidade reduzir as carências alimentares das comunidades rurais. Inaugurado no dia 4 de Abril de 2022, o Canal do Cafu tem uma extensão de aproximadamente 157 quilómetros de canal aberto e um conjunto de 30 chimpacas. As obras do projecto custaram 44.358 milhões de kwanzas.