Ombadja é o município no Cunene com mais projectos subvencionados no âmbito do FRESAN – Programa de Fortalecimento da Resiliência e da Segurança Alimentar e Nutricional em Angola: são seis, implementados nas cinco comunas. Esta quarta-feira, 1 de Fevereiro, o FRESAN/Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. apresentou na Assembleia da Administração Municipal de Ombadja os seis projectos, que ultrapassam os 7 milhões de euros:
1) Aumento da resiliência das comunidades no Cunene através do acesso a água para fins doméstico e agro-pecuário: implementação ADPP – Ajuda de Desenvolvimento de Povo para Povo (em parceria com a CODESPA) em Ombadja e também na Curoca (1.666.667 euros).
2) Comunidades mais resilientes e melhor nutrição para as mães e as crianças do Cunene: implementação CUAMM – Médicos com África (em parceria com a Direcção Municipal de Saúde de Ombadja, o Gabinete Provincial da Saúde e a Diocese de Ondjiva) em Ombadja (780.331 euros).
3) Adaptação dos sistemas agrários para a melhora da segurança alimentar e nutricional: implementação CODESPA (em parceria com a ADPP e o Instituto de Investigação Agronómica) em Ombadja e também no Cuvelai (777.778 euros).
4) Água e saneamento rural na província do Cunene: implementação DW – Development Workshop (em parceria com a Empresa de Águas e Saneamento do Cunene) em Ombadja, bem como na Cahama, Cuanhama e Cuvelai (1.544.069 euros).
5) PARA-Cunene – Projecto de apoio à redução da insegurança alimentar no Cunene: implementação NCA – Norwegian Church Aid (em parceria com a ADRA – Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente) em Ombadja e também na Cahama (1.499.963 euros).
6) Redução da vulnerabilidade nutricional nos municípios de Cahama e Ombadja através da vigilância comunitária e o aumento de acesso a fontes de água segura: implementação CUAMM em parceria com as Administrações Municipais de Ombadja e Cahama (1.070.613 euros). Os projectos 1), 2) e 3) tiveram início em 2020, com o 2) e o 3) a serem concluídos em 2023, e o 1) a terminar em 2024; os projectos 4), 5) e 6) iniciaram em 2022 e vão ser concluídos em 2024 (em que, com a provável extensão do Programa FRESAN, deverão terminar em 2025).
Na declaração de abertura, Juan Molina, coordenador-adjunto do FRESAN/Camões, I.P. no Cunene (à direita na imagem), fez um resumo das acções levadas a cabo no âmbito do Programa FRESAN, referindo que os seis projectos apresentados se enquadram nas componentes I (resiliência e produção sustentável da agricultura familiar) e II (melhoria da nutrição via transferências sociais com foco na educação e na alimentação) do FRESAN. Acrescentou, já durante o evento, que os projectos inseridos nos Programa FRESAN permitiram que, “por exemplo, entre 2021 e 2022, algumas comunidades afectadas pela seca produzissem alimentos com a captação de água e o sistema de irrigação agrícola, o que foi um grande contributo”, dado que na campanha agrícola anterior, de 2020/21, “muitas comunidades não conseguiram produzir os seus alimentos”. Assim, “através do financiamento da União Europeia no âmbito do Programa FRESAN, conseguiram mitigar a insegurança alimentar em que se encontravam”. Além da construção de infra-estruturas de irrigação que têm permitido um melhor acesso a água para consumo humano e animal, foram realizadas também “acções de sensibilização em melhoria da nutrição junto de mulheres em idade reprodutiva que têm crianças menores de cinco anos”. Os seis projectos em Ombadja beneficiaram “cerca de 1.100 agricultores. A sensibilização nutricional foi feita com perto de 20 mil mulheres em idade reprodutiva. Foram construídas ou reabilitadas à volta de 70 infra-estruturas hidráulicas para consumo humano ou animal e para irrigação agrícola, em que mais de 40 mil pessoas viram o seu acesso a água melhorar. E cerca de 100 jovens têm trabalhado em brigadas na construção/reabilitação de infra-estruturas hidráulicas, num sistema de dinheiro por trabalho [cash-for-work], contribuindo de alguma forma para a segurança alimentar das suas famílias”.
Nasso Soares, coordenador de projecto na DW, referiu que o papel desta organização não governamental (ONG) no Cunene passa por “implementar acções direccionadas para a água e saneamento nas zonas rurais da província”. O projecto a cargo da DW [4)], “com a duração de dois anos”, tem “três eixos: o primeiro é implementar 30 furos de água; o segundo, assegurar a componente de gestão comunitária; o terceiro, capacitar as instituições para avançarem com o projecto no futuro”. Acrescentou que, nos 30 pontos reabilitados, esperam abranger cerca de 30 mil pessoas, não só em Ombadja, mas também no Cuvelai, Cuanhama e Cahama. Anna Bigatti, chefe de projecto no CUAMM, explicou que esta ONG trabalha as áreas de nutrição e água, sendo que na nutrição [projecto 2)] vão ser conduzidas “actividades de vigilância comunitária com agentes de saúde que trabalham na própria comunidade, pela e com a comunidade”. No que diz respeito à promoção da saúde, apoiam grávidas e crianças menores de cinco anos no sentido de prevenir e fazer o rastreio da nutrição das crianças”. Na componente da água “vamos reabilitar pontos de água [projecto 6)] perto do centro de saúde, para garantir água” própria para consumo nas instalações de saúde. A implementação em Ombadja, que teve início em Janeiro de 2022 e termina em Dezembro de 2023, envolve 42 aldeias das comunas de Humbe, Mucope e Xangongo.
Duarte Cleofas Manuel, líder de projecto na ADPP, explicou que a principal tarefa desta ONG, em parceria com a CODESPA [1)], é “reabilitar as fontes de água: falamos de furos, represas, desassoreamento de chimpacas. E, nas mesmas comunidades em que estamos a intervir, a CODESPA tem a actividade de instalar os sistemas gota-a-gota. Temos 17 furos por reabilitar, seis chimpacas por desassorear, três represas por construir e três chafarizes por reabilitar; e temos 18 poços melhorados por construir”. Em relação aos beneficiários destas acções, “a meta estimada era de 36 mil, que ultrapassámos: estamos nos 41.692 beneficiários”. O projecto, que abrange 39 comunidades, arrancou em 2020 e tem um período de extensão de 2022 até início de Junho de 2024. O responsável adiantou que, além da intervenção em infra-estruturas, está também a ser ministrada formação aos GAS (Grupo de Água e Saneamento), estruturas compostas por cinco membros eleitos pela própria comunidade que asseguram a gestão das instalações de água. “Mais que reabilitar um furo, é importante formar a comunidade para o manter a funcionar. São feitos planos trimestrais que vão sendo actualizados, realizamos encontros com as comunidades para avaliar o grau de execução desses mesmos planos e o impacto que estão a ter na comunidade. Temos uma equipa técnica, mas recrutamos jovens na comunidade que, além de receberem dinheiro, ganham competências para, no futuro, dar sustentabilidade ao projecto”.
Elizeth Kondjasili Mwamelungi, administradora municipal de Ombadja (à esquerda na imagem), agradeceu a escolha do seu município, “coração do Cunene, terra de encanto e de unidade, para beneficiar dos projectos que foram apresentados”. Considera que “as acções desenvolvidas pelo FRESAN têm impacto significativo nas nossas comunidades”, reconhecendo que “o Estado, por si só, não consegue dar resposta a todos os problemas que advêm da dinâmica social, incluindo as alterações climáticas, pelo que necessita de estabelecer parcerias para colocar cobro às adversidades”, em que se inclui o FRESAN. Concluiu com um apelo ao FRESAN, “assim como os seus financiadores”: que “os próximos projectos dêem prioridade à maior necessidade das nossas populações – a requalificação e abertura de mais chimpacas, assim como o desassoreamento”, para que fiquem mais resistentes à seca.
ECA Suku Tukwafa aposta em batata-doce
Seguiu-se a apresentação da intervenção FRESAN/Camões, I.P. na ECA – Escola de Campo de Agricultores Suku Tukwafa, na comunidade de Capanda, comuna de Xangongo. Fundada a 28 de Outubro de 2020, esta ECA conta com 41 membros (33 mulheres e oito homens) e já fez colheita de produtos agrícolas graças ao apoio do financiamento FRESAN. Teresa Ndjoleni, presidente da ECA Suku Tukwafa (“Deus nos Ajude” em português) e beneficiária do Programa FRESAN, explica como o espaço “era uma mata fechada” que foi limpa, onde semearam milho. Mas, na campanha de 2020/21, devido à falta de chuva, a sementeira “não deu certo e o Programa ofereceu-nos uma motobomba e um sistema gota-a-gota. E, noutra parte que também desbravámos, metemos milho, feijão, melancia e tomate, que se deram muito bem. O feijão foi normal, mas o milho deu-se muito bem; a melancia, vendemos, e comemos, num tempo que era de fome. Garantiu-nos alimento”. Em Dezembro de 2021 receberam sementes de batata-doce, que colocaram na área de multiplicação. Resultado: “também colhemos muita batata, que vendemos e comemos, e trocámos por mantimentos que agora permitem fazermos o nosso trabalho na nossa ECA. Deram-nos também mandioca”. E “continuamos a apostar na batata-doce, porque vemos que é uma cultura que dá para satisfazer a fome da população: não somos só nós, da ECA, que comemos – é toda a população da Capanda, que vem comprar batata-doce”. Teresa Ndjoleni elucida ainda que cada membro da ECA tem uma parcela individual, onde tem desde maçaroca a milho, passando pela incontornável batata-doce. Declara que “aprendemos muito: sobre nutrição, como guardar as sementes – temos o nosso banco de sementes – para o futuro”. Agradecemos a este Programa, que nos conduziu, que nos garantiu alimentos para comer e sobreviver com os nossos filhos naquele tempo de fome. Agradecemos aos nossos técnicos, que estavam a toda a hora para nos ensinar, passo a passo connosco. Aprendemos muito”.
Data: 1 de Fevereiro de 2023