Fonte: Economia & Finanças (04/11/2022)
Negócio da carne sente falta de gado
Governo prevê investir uSD 300 milhões para relançar o sector pecuário
Actualmente o país controla 6 milhões de cabeças de gado bovino, dos quais apenas 200 mil pertencem ao sector empresarial privado, quantidade que carne não responde as necessidade do mercado o que motivou o país importar, em 2021, um total de 62.084 toneladas de carne bovina
Ana Paulo
O Governo angolano prevê investir cerca de 300 milhões de dólares para implementar o Plano Nacional de Desenvolvimento da Pecuária (PLANAPECUARIA 2023-2025), no sentido de reduzir o grande défice que se regista em relação à produção de proteína animal, e aumentar a criação pecuária.
Em entrevista ao Jornal de Economia e Finanças, o direc-tor-geral do Instituto dos Serviços Veterinárias, Henrique Gime, disse a intenção é melhorar a oferta às populações nos níveis de consumo, numa altura em que o montante vai apoiar os produtores empresariais. “No quadro da proposta dos 300 milhões de dólares para a produção pecuária estamos a trabalhar no sentido de alterar este quadro porque de facto ele é sombrio”, disse o responsável.
O que se pretende é que o país tenha mais gado do que população, equilíbrio necessário para atender a demanda populacional em torno dos 30 mil habitantes. Por outro lado, informou que Recenseamento Agro-pecuário e Pescas (RAPP) lançado pelo Instituto Nacional de Estáticas (INE), em
2021, indica que existem no país aproximadamente seis milhões de cabeças de gado bovino, dos quais quatro mil são controladas pelo Ministério da Agricultura e Florestas. Entre as seis milhões de cabeças de gado, apenas 200 mil pertencem ao sector empresarial privado.
Em termos de produção pecuária, quatro províncias do Sul de Angola dão peso ao sector, nomeadamente Namibe, Huíla, Cunene e Cuando Cubango. O responsável disse haver alguns efectivos em crescimento, no Cuanza-Sul, Benguela e outras zonas. Com relação aos produtores e criadores de animais, Henrique Gime realçou que 90 por cento de efectivo animal do país é liderado pelo sector tradicional ou familiar. “Estamos a trabalhar com aproximadamente quatro milhões de cabeças”, frisou, tendo destacado que o censo animal continua em curso, o que faz com que ainda não haja de forma oficial a contabilidade de todas as espécies que o país tem.
Baixa produção
Apesar deste efectivo animal, o país regista uma baixa na produção de carne, colmatado com o processo de importação para atender as necessidade do mercado consumidor. Segundo dados da Administração Geral Tributária, citados por Henrique Gime, o país importou, em 2021, um total de 62.084 toneladas de carne bovina, 66.568 de suína, 36.348 de frango de corte (aves) e 35 mil de caprinos. Quanto à importação de frangos, Henrique Gime disse que o sector regista um número ainda muito acentuado, seguido da carne suína, caprinos, devido a fraca produção nacional.
“A carne suína praticamente o mercado nacional não produz, sendo que grande parte ou praticamente toda é importada”, disse, situação que poderá ser investida com a implementação do PLANAPECUARIA. O responsável reconhece que a importação de carne ainda é muito acentuada. Para inverter o quadro, um dos grandes objectivos do Governo é a entrada de mais gado para a criação e reprodução, que vai permitir diminuir cada vez a saída de divisas que podem servir para outros sectores de actividade económica.
Para Henrique Gime é necessário que os criadores empresariais e familiares continuem a apostar no sector animal, porque Angola dispõe de boas condições climáticas. “Criar aves não é difícil e se andarmos hoje ao longo das nossas áreas de produção, raramente encontraremos um centro de abate a executar de 20 a 30 mil aves, logo podemos incentivar os cidadãos a criar e produzir este tipo de animais, porque o sector dispõe de técnicos que poderão apoiar os criadores”, frisou destacando que deve-se investir em novos produtores e pecuaristas.
Um dos desafios para o crescimento do sector pecuário possa pelo o aproveitamento dos recursos humanos. “Há muitos que não têm capital para iniciar uma actividade, mas podem ser motivados, e assim estaríamos a criar uma nova classe de produtores ou criadores de gados”, apontou depois de destacar a importância da assistência técnica.
Apesar destes constrangimentos, o responsável assegurou que as actuais estatísticas mostram que a produção de carne nacional tem estado a aumentar, daí a necessidade de um trabalho “árduo” com vários intervenientes, com realce para o sector bancário. Neste particular, defende que a banca comercial deve criar mecanismos de facilitação de crédito, com taxas de juros atractivas, períodos de carência aceitáveis, e outros mecanismos que facilitem os pecuaristas a desenvolverem a sua actividade, apesar dos riscos que o sector regista.
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Angola importa do Chade 4.000 bovinos
O projecto de importação de gado bovino do Chade permitiu, numa primeira fase, que quatro mil efectivos fossem distribuídos aos criadores a um baixo preço. O director-geral do Instituto dos Serviços Veterinárias, Henrique Gime, garantiu que o processo vai continuar, e é também um mecanismo que o Governo encontrou para incentivar o aumento da produção de carne bovina no país e diminuir as importações.
Apesar do efectivo animal ser “insuficiente”, Henrique Gime sublinhou que o processo vai continuar, tendo assegurado que a parte técnica está salvaguardada. O acordo prevê aspectos de cumprimento obrigatório, que incluem a selecção, preparação, transporte e verificação de todas as condições para que “não haja qualquer situação, que possa comprometer os animais a virem para Angola e de forma saudável”. A previsão é de mais de 12 mil cabeças de gado, quantidade que vai depender do processo de transportação, “porque é difícil encontrar transportar três a cinco mil cabeças de uma só vez”.
A maior parte deste gado, segundo contou Henrique Gime, está destinada para povoar o Planalto de Camabatela. O Ministério da Agricultura e Floresta tem estado a formar pecuaristas na região, que irão receber os efectivos bovinos. Por um lado, foi também montado um laboratório no município de Ambaca, no Cuanza-Norte, que vai dar resposta aos eventuais problemas de rastreio nos animais.
“À medida que for lançado a campanha de vacinação também serão feitas recolha de amostras para descartar eventuais patologias que os animais possam ter, e permita que sejam tratados de forma antecipada”, frisou, depois de explicar que no caso específico do Planalto de Camabatela, uma quantidade considerável de produtores beneficiam dos animais a baixo preço.
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Quota empresarial atinge as 200 mil bovinos
Apenas 200 mil cabeças de gado bovino, dos seis milhões existentes no país pertencem ao sector empresarial, número que está muito aquém das potencialidades do país, apesar de existirem fortes indícios de um crescimento acentuado. Herinque Gime referiu que o Ministério de tutela tem recebido da parte dos produtores solicitações de importação de animais para poder melhorar os biótipos existentes no país.
“É um sector que está em franco crescimento, e nós dentro do projecto que iniciará em breve, que é o projecto da Agricultura Familiar e Comercialização (MOSAP), iremos trabalhar com uma consultoria que nos vai permitir avaliar a principal contribuição no Produto Interno Bruto (PIB”) nacional, fruto da produção pecuária no país”, anunciou.
Um outro incentivo que vai permitir o aumento da produção bovina é a construção da rede de distribuição de água no Cafu, projecto em curso na região Sul do país, com realce para a província do Cunene, que detém um dos maiores efectivos bovinos do país. Para Henrique Gime, esta iniciativa do Governo vai dar um “pulo extremamente grande” porque vai melhorar as condições dos animais, além de possibilitar que se faça o controlo de algumas patologias que podem ocorrer nos animais. “O Cafu vai melhorar a reprodução dos efectivos pecuários na região, tanto para o sector empresarial como tradicional”, apontou, antes de frisar que neste canal, os empresários terão a capacidade de instalarem elec-trobomba e outros sistemas de captação de água.
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10 Países fornecem carne para Angola
Angola importa variedades de carne em mais de 10 países, nomeadamente, Argentina, Estados Unidos, Reino Unido, Holanda, França, Portugal, Brasil, Polônia, Bélgica, Itália e Espanha. A carne bovina é proveniente do Brasil e Argentina.
Aves e suínos
Quanto às aves também são oriundas da Argentina, Estados Unidos da América, Reino Unido, Holanda e França. A carne suína é importada de Portugal, Brasil, Polónia, Bélgica, Itália e Espanha.
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Postos de fiscalização de animais
O sector está a instalar postos de fiscalização no Planalto de Camabatela, nas províncias de Malanje, Uíge e Cuanza-Norte, que vão permitir, daqui a um ano, o controlo de entrada de animais no perímetro. A iniciativa visa fazer o controlo e travar eventuais doenças e criar uma zona “livre de enfermidades”. O projecto, precisou, está a contemplar o cadastramento de criadores, uma medida que vai contribuir para que o se crie no Planalto de Camabatela uma área de produção para a exportação de carne de qualidade.
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Vacinação atinge 1,6 milhão de cabeças
Mais de 1,6 milhão de cabeças de gado, distribuídas nas províncias do Namibe, Huíla, Cunene e Cuando Cunbango, foram vacinadas na região Sul de Angola, este ano. Para o próximo ano, o Instituto dos Serviços Veterinários prevê dar início ao processo de vacinação de animais em Abril, cuja intenção é mobilizar cerca de 6,2 milhões de doses de vacina para a campanha que vai atingir todo o território nacional. As vacinas obrigatórias incluem as de raiva.
O sucesso da vacinação foi alcançado devido a parceria com o programa “FRESAN”, que permitiu a formação e reciclagem de vários profissionais do sector com realce para os chamados “tratador”, criadores de gado do sector tradicional. “No corrente ano pretendemos que o processo de formação seja mais abrangente, porque os criadores além de aprender aspectos clínicos, saberão também mais sobre a nutrição e zootecnia para melhorar as manadas das famílias”, apontou.
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Indústria da carne ressente escassez de gado no mercado
Urge a necessidade de se criar matadouros industriais e semi-industriais com capacidade para atender a elevada procura dos produtos agro-pecuárias no maior centro de consumo do país
Ana Paulo
A província de Luanda conta com duas grandes zonas de abate de animais nomeadamente, o matadouro do Songo, no Distrito Urbano do Morro dos Veados, no município de Belas, bem como o do KM30, considerado o maior mercado informal a nível do município de Viana, cujo número de abate tem diminuído consideravelmente por falta de animais. O matadouro do Songo, gerido por uma empresa homônima há mais de 15 anos, o espaço está reservado para o abate de 70 a 80 cabeças de gado bovino por dia, quantidade que baixou significativamente para menos de 30 a 40 cabeças por mês.
A média de abate semanal é de 75 a 85 cabeças, fruto da escassez dos animais, o que tem originado o alto preço da carne de vaca, principalmente. Localizado no também KM 25, a Sul de Luanda, antes da Covid-19, o matadouro registava, semanalmente, o abate de 60 a 70 cabeças, e em 2020, período que Angola detectou os primeiros casos da pandemia, o Songo abateu entre Março e Abril 50 cabeças de gado por dia.
Em entrevista ao Jornal de Economia e Finanças, o responsável de marketing e comercialização da empresa Songo Comercial Lda, Januário Graciano, esclareceu que a baixa produção é fruto dos constrangimentos vividos no Sul de Angola, região que fornecia os animais em quantidade e qualidade, abaixo preço. A empresa Songo tem uma reserva animal com aproximadamente 1.000 efectivos de gado bovino.
Explicou que o gado era comprado com bens materiais, como é o caso de motorizadas de duas rodas, bem como os também chamados “Kupapatas” (de três rodas). Januário António Graciano explicou que por cada motorizada que à época custava 70 mil kwanzas, o criador dava seis a sete cabeças de gado, e depois o preço baixou para três a quatro cabeças.
Actualmente, disse, por cada cabeça de 70 quilos de carne, o comprador paga no mínimo 180 mil kwanzas, um vitelo, e o máximo está cotado nos 600 mil, com cerca de 200 quilos. O gado que abastece o mercado de Luanda é proveniente das províncias da Huíla, Benguela e Cunene. “O Huambo tem também bons efectivos, embora não seja dos melhores”, aponta, depois de frisar que a zona Norte do país, com realce para o Cuanza Norte e Malange, também vende gado melhorado, com boa qualidade.
Venda à retalho
No matadouro do Songo está equipado de um talho que vende também a carne por quilos. Neste espaço, os preços são ligeiramente mais baixos em comparação com os restantes talhos instalados no centro da cidade de Luanda. Por exemplo, no local, um quilo de lombo custa 5.000 kwanzas, enquanto que em alguns supermercados o preço ronda os 14 mil kwanzas. A carne de primeira, segundo explicou Januário Domingos é vendida a 4.500 kwanzas o quilo, e em outros locais está a oito mil kwanzas.
“A nossa tabela de preço é quase 70 vezes menos do que os mercados informais fora da circunscrição”, frisou Januário Graciano, depois de informar que a empresa factura mais com a venda à retalho “porque nem todos têm 180 mil kwanzas para comprar um boi ou mesmo associar. No talho, o preço mais alto é 5.000 kwanzas, e o mínimo 1.000”. Para a certificação do animal para o abate, a empresa conta com a colaboração do Instituto dos Serviços Veterinários.
“Quando este tempo passa, o mercado volta a ter maior população animal e novamente as cabeças para repor o que tiramos no celeiro , no sentido de manter equilíbrio”, frisou realçando que, os criadores são pessoas que têm grande poder de compra , chegam ao Sul e adquirirem as cabeças em quantidade e comercializam em Luanda. Por outro lado, o gestor defende a criação por parte da banca comercial de um crédito específico, com taxas bonificadas para apoiar o negócio da venda de carne bovina.
“O Ministério da Agricultura e Florestas deveria trabalhar junto dos bancos para que através do Banco de Desenvolvimento Angolano (BDA) possa ajudar os criadores e vendedores de baixo, médio e grande porte”, augurou. Januário Graciano pretende aumentar o negócio da empresa, com a ampliação das infra-estruturas, daí a necessidade de um investimento avaliado em cerca de 150 milhões de kwanzas.
A empresa conta com cerca de 52 trabalhadores efectivos e 70 indirectos. Além do serviço interno (venda a retalho e a grosso), a empresa também abate animais para terceiros ao preço de 11 mil kwanzas por cada animal. No sector agro-pecuário, a empresa Songo vende também estrumes em saco de 50 quilos, ao preço de mil kwanzas.
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Comerciantes aproveitam “Quintalão da carne”
Na zona circunvizinha do Songo, está localizado o mercado informal, liderado por um grupo de mulheres que comercializam a carne bovina nas motas de três rodas. Laureta da Silva é vendedora de carne no quintalão há sete anos. Segundo contou, compra a cabeça de gado ao preço de 250 a 600 mil kwanzas, e depois de abatida, a carne de vaca é vendida em montes, cuja quantidade varia.
O monte de carne pode custar entre 10 e 12 mil kwanzas. No caso do lombo, a comerciante disse que é vendida à parte, e pode variar de 12 a 22 mil kwanzas. Por sua vez, Maria da Silva comercializa carne há dois anos. Segundo ela, o movimento de clientes é positivo apenas no final de cada mês, fruto do salário. Agora, as vendas baixaram muito fruto do alto preço do boi. “A cabeça de boi custa entre 180 e 600 mil kwanzas, dependendo do tamanho”, informou.
Mercedes Zinga vende cabrito e carne de porco. Segundo ela, compra os animais no quintalão do Songo. Um cabrito varia entre 30 e 40 mil kwanzas, dependendo do tamanho, enquanto que o leitão varia entre 18 a 20 mil kwanzas. Depois de abatida, uma perna de porco custa 11 a 12 mil kwanzs, e a cabeça varia entre 2.500 a 3.000 kwanzas. A perna de cabrito varia entre 5.000 a 12 mil kwanzas, e a costela custa 4.000 kwanzas.
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Turistas degustam carne grelhada
Na área adjacente ao matadouro do Songo existe uma área de lazer que fornece aos turistas e compradores carne abatida e grelhada. O espaço contém mais vários compartimentos equipados com mesas, cadeiras e vários fogareiros prontos. Ângela Viola é funcionária de uma das proprietárias do espaço. Em companhia de oito trabalhadores, uns têm a missão de grelhar a carne, outros atendem a mesa com bebidas e carne. A trabalhar no local desde 2002, Ângela Viola tem como função grelhar a carne, comprando o quilo ao preço de 3.500 kwanzas, no talho do Songo, e depois comercializa a tira ao preço de 1.500 kwanzas. Em três quilos, Ângela Viola lucra cerca de 9.000 kwanzas.
“De terça à sexta-feira conseguimos vender entre 18 e 20 quilos de carne, e nos fins-de-semana mais de 30 quilos devido o movimento de pessoas passam pela Estrada Nacional n°100, e que se deslocam de Luanda para o Cuanza-Sul ou Benguela”, apontou, depois de adiantar que às vezes atende neste período cerca de 100 pessoas.