Vasco Andrade nasceu para ver crescer. Sem perder o contacto com a natureza que somos, este facilitador na Escola de Campo de Agricultores (ECA) de Cutenda, município de Chicomba, na província da Huíla, sonha a cor da esperança. “Planto muitas hortaliças”, diz, com um brilho nos olhos. “Dão-se bem com a terra”, acrescenta. E já tem em vista produtos que poderá semear para aproveitar cada pedaço de chão, como referiu no intercâmbio promovido pela organização não governamental PIN – People in Need entre agricultores e a empresa QUAVI no âmbito do projecto Chitanda, subvencionado pelo Camões, I.P. inserido no Programa FRESAN.
Com cinco irmãos, dois dos quais já falecidos, Vasco Andrade faz contas à vida e aos filhos. “Tenho 55 anos e 12 filhos”, e por cada um deles faz vénias ao sol todos os dias, das 7 às 15 horas. Trabalha para que os filhos não passem fome, frio ou dificuldades. Conheceu a guerra em 1981, deixando para trás a Missão Católica de Chicomba, onde completou o 7.º ano de escolaridade. “Formar os filhos” é poupá-los ao que ele testemunhou e cultivar a paz ao lado da mulher que o acompanha nesta aventura: “Estamos juntos”.
Vasco Andrade é um dos 210 agricultores que implementaram novos métodos ensinados nas Escolas de Campo de Agricultores presentes nos municípios da Jamba e de Chicomba, ao abrigo do projecto Chitanda implementado pela PIN. Já sabe que a terra tem o seu tempo: “onde plantas hoje feijão amanhã plantas jinguba”, observa. Na formação proporcionada nas ECA pelo Chitanda, Vasco aprendeu a escutar necessidades e a multiplicar oportunidades. Cultivou milho e fê-lo chegar às 5 toneladas; a estas somaram-se 600 quilos de feijões e 3 toneladas de vegetais, que vendeu no mercado, contando com o apoio da rede para comercialização dos produtos agrícolas criada e estimulada pelo projecto. A receita da venda destes produtos permitiu-lhe investir em gado, um bem precioso para muitos povos no Sul de Angola.
“O que estraga tudo é a seca”
Vasco Andrade cultiva há 40 anos. Nos últimos quatro, “as pessoas estão a viver mal”. A falta de chuva é apontada como a grande responsável por estas circunstâncias, ainda que seja só um reflexo de um planeta que tem de repensar a forma como vive. Apesar de ter trabalhado junto ao mar, no porto do Namibe, depois da tropa Vasco resolveu dedicar-se ao que mais ama: a terra que ajuda a fertilizar com “o estrume e o capim”, fundamentais para a nutrir. “O mais importante para mim é a agricultura”, adiantando que “no cultivo de hortícolas sempre há vantagens, não se depende tanto das chuvas”. Para tal conta com a rega com a água puxada do rio por equipamento (como motobombas ou mangueiras) proporcionado pelo Programa FRESAN, o que lhe permite diversificar a produção e falar de nutrição. “Alimenta bem os teus filhos, e se o teu filho estiver a emagrecer leva-o a comer papa no posto de saúde”, aconselha. Este agricultor e criador de gado também se tornou agente de saúde comunitária no âmbito da intervenção FRESAN. Ou seja, sensibiliza a população da sua comunidade para ter uma alimentação diversificada, para que cuide das casas, das latrinas e de outros espaços comuns, bem como da higiene diária.
Vasco ajuda assim a formar novas visões e práticas para o futuro de outros agricultores. E alimenta um sonho a quatro rodas: “Quero uma carrinha que me ajude a transportar batata, cebola…”, partilha, no desejo de trocar os bens que cultiva por produtos que lhe façam falta e ir por aí, alimentando-nos da natureza de que somos feitos.
Nota: O Chitanda é um projecto subvencionado pelo Camões, I.P. no âmbito do Programa FRESAN. Co-financiado pela Embaixada da República Checa em Pretoria, é implementado em parceria pela People in Need (PIN) em colaboração com a Action for Solidarity and Development (ASD).
Data: 16 de Setembro de 2022